domingo, 3 de julho de 2011

MEMORIAL







 
MEMORIAL
COSTURANDO E ARREMATANDO AS CONCEPÇÕES CONTEMPORÂNEAS DE CURRÍCULO
Introdução
Tudo começou quando escolhi fazer a disciplina Concepções Contemporâneas de Currículo por me identificar com os conteúdos que seriam abordados, mas aconteceu algo muito mais que uma identificação. Foram momentos de muitas inquietações,  insights, partilha de conhecimento, de compreensão, de entendimento, de aprendizagem significativa num espaço especial onde tudo era mediado por uma mestra, nossa querida Prof.ªRita, que caminhou conosco nos ensinando a caminhar  e assim aprendemos a cada dia ter passos mais seguros.
Quando a professora propôs essa atividade cheguei em casa e vi minha filha deitada no sofá se cobrindo com uma colcha de retalhos feita por minha mãe e comecei a lembrar de como ela fazia cada quadro da colcha, sempre colocando um quadrado no meio e depois com tiras retangulares de diversos tamanhos e cores diferentes ia combinando-as em volta desse quadrado, ocupando espaços formando um quadrado maior que era o quadro da colcha e assim muitos iam sendo formados até chegar no tamanho desejado. Quando todos os quadros estavam formados eram costurados formando a colcha e havia uma grande preocupação com os arremates para que essa ficar perfeita.
Assim fiz a analogia da minha caminhada na disciplina com uma colcha de retalhos. Cada quadro sendo formado em cada um dos encontros que tivemos, uma nova aprendizagem. O quadrado do meio de onde se inicia o quadro, nossa professora, que propunha os textos para leitura e iniciava o trabalho.  As tiras retangulares diferentes uma das outras, cada um de nós. Ocupávamos espaço diferente a cada encontro, dependendo da tarefa que iríamos desempenhar. Em alguns encontros ficamos mais próximos do quadrado do meio por estarmos apresentando o trabalho e em outros completando outros espaços com nossas colocações. Como na colcha todos os retalhos são importantes para formar o quadro, no nosso caso também fomos um para o outro na construção do processo de aprendizagem. Também em todos os encontros nossa professora fez atentamente com suas colocações, todos os arremates necessários para nossa aprendizagem ser significativa. No final dos encontros nossa colcha que recebeu o nome de: Concepções Contemporâneas de Currículo, ficou pronta.
E para falar de minha caminhada na disciplina tenho que referir a cada quadro da colcha que também receberam nomes e foram sendo costurados aos textos e contextos puxando fios e desafios por Paullus, Kleber, Janet, Marcos, mudando meu eu subversivo, encontro lugares de iguais nas esquinas e pensares...onde tudo aconteceu durante todas as tardes, de sexta-feira, desses últimos quatro meses e que agora foram arrematados.


Desenvolvimento
1ª Aula (13/03/11): A expectativa, a professora nova, os colegas. Nesse encontro nos apresentamos e foram momentos de entrosamento, tivemos a primeira impressão uns dos outros. A seguir recebemos o Plano de Curso, que foi comentado pela professora e os autores a serem trabalhados. Depois recebemos uma polêmica poesia: “Não Entendo o Espanto”, que não entendemos qual era a sequência exata das estrofes e cada um fez a leitura e interpretação da sua maneira. Apesar de não ser a intenção da professora, gerar toda polêmica em torno da poesia, pois foi só um problema de impressão, a situação foi muito interessante porque tivemos nosso primeiro momento com as questões curriculares e suas intenções ou não. Também nos foi pedido que cada um escolhesse o trecho da poesia que lhe marcou para ser comentado.
         
Antes de encerrar a aula nossa primeira tarefa foi proposta, leitura e resumo de diferentes textos relacionados à tradição curricular brasileira para serem discutidos, na aula seguinte. O texto que li e preparei foi: Sociedade, educação e currículos no Brasil dos jesuítas aos anos de 1980.
2ªAula (18/03/11): Os textos preparados foram apresentados, debatidos e começamos nossa construção do conhecimento a respeito do currículo. Para concluir a aula a Prof.ª Rita falou sobre o currículo e nos mostrou como é um termo polissêmico e possui uma base ideológica. Falou também de questões importantes como: conteúdos, organização e forma do currículo, que irão implicar na estrutura curricular, na seleção dos conteúdos, nos pré-requisitos a serem considerados na sua elaboração. Nos fez pensar sobre o currículo oculto, manifesto, prescrito, vivido, que produz e reproduz sentidos, valores, sujeitos. Portanto o currículo tem a função social, cultural e o papel coletivo de atender os anseios e necessidade de um povo.
Ao encerrar, a professora propôs a atividade para a aula seguinte, resgatando a base ideológica do currículo, assistir o filme: A Onda e relacioná-lo com as questões debatidas, no dia.

3ªAula (25/03/11): A professora nos trouxe algumas definições a respeito de currículo para cada uma das concepções: tradicional, crítica, pós-crítica e uma definição de Forquin mostrando a contribuição da nova sociologia para a educação em que denuncia os efeitos de discriminação e desigualdade do contexto social atuando também no sistema educacional. As diferentes definições mostrou como o contexto sócio-histórico-cultural interfere nos elementos fundantes do currículo: o conhecimento (relacionado às questões epistemológicas), o político (relacionados às relações de poder) e o de base ideológica (relacionado à ética, valores). Assim chegamos às questões relacionadas aos atos curriculares: o currículo prescrito vivido na prática, formado pelo e no cotidiano, pela provisoriedade, pelo modo de pensar e fazer, pelos lugares diversos. Portanto, os atos curriculares permitem a revitalização do currículo e:
“Fazer currículo é etinerância e também errância.” (Rita Stano)
Antes de encerrar sua fala, a professora referiu a primeira obra sobre currículo no mundo, intitulada: The Curriculum, em 1918, por Bobbitt, em que fez uma metáfora da escola como fábrica, do currículo como processo de produção, os alunos matéria-prima e os professores controladores do processo de produção.
A seguir ouvimos e debatemos o texto: Educação Jesuítica, preparado pelo Paulo, e concluímos que toda educação tem uma intenção e o currículo é um processo histórico.
A aula foi encerrada com o texto: Comunicação e Informações – A questão do currículo no Brasil e Portugal – Alguns comentários, que o Marcos preparou para nos apresentar.

4ªAula (01/04/11): Um dia muito especial, ganhamos um espaço novo e muito aconchegante. Nossas aulas passaram a ser na sala da Professora, onde chegamos, nos acomodamos e tomamos conta de nossos lugares.
O encontro iniciou com a continuação da aula anterior, a apresentação do Marcos. A partir do texto refletimos sobre a questão da crise da educação e os problemas enfrentados pelos cursos de licenciatura.
A seguir ouvimos a apresentação da Patrícia sobre questões curriculares de 1930 a 1964, que envolveu história, o modelo agrário e industrial, a Reforma Educacional de 1931, o Manifesto dos Pioneiros, a Constituição de 1937, de 1946, o golpe militar, as reformas Francisco Campos e Capanema e as primeiras Leis de Diretrizes e bases da Educação.
Também eu e Angela preparamos e apresentamos de um texto: A crise da mudança dos currículos.
Tarefa do dia: ler e fazer um resumo do texto: A crise Educacional Brasileira de Anísio S. Teixeira,

5ªAula (08/04/11): Mais um dia especial, nasce à ideia do Blog, outro espaço criado para interagirmos: Meu Eu Subversivo, Professor Marcos, Kleber Nogueira, Fios e Desafios, Paullus Blog,  Lugar de Iguais, Janet Carvalho, Textos e Contextos e Esquinas e Pensares.
A aula foi em torno de dois textos: Currículos e Programas no Brasil, que foi apresentado por Rafael, e outro: Histórico Social das Mudanças Educacionais, preparado por Kleber.
Tarefa do dia: Cada aluno recebeu um tema para resenhar e o meu foi: Quem escondeu o currículo oculto?  E assistir a palestra: O perigo de uma história única.

6ªAula (15/04/11): A professora nos trouxe um texto com as principais ideias das teorias críticas e pós-críticas de currículo. Preocupou em diferenciar cada uma delas, destacando que as teorias críticas desvelam as desigualdades sociais e o currículo é visto como elemento de transformação social. Fez referencia aos autores Apple e Giroux. Nos mostra também como as teorias pós-críticas estão mais relacionadas com a análise da cultura, preocupadas com as minorias, os desfavorecidos, as questões de gênero e identidade. Autores citados: Raymond Williams e a perspectiva rizomática em Silvio Gallo.
Tarefa do dia: Assistir os filmes: Antes que o mundo acabe; As melhores coisas do mundo e em seguida relacioná-los com os temas estudados até o momento.
 
7ªAula (29/04/11): Começamos as apresentações das resenhas do livro: Documento e Identidade de Tomaz Tadeu da Silva.
O primeiro a apresentar a resenha foi Marcos com o capítulo: Uma introdução às teorias críticas do Currículo, em que Apple denuncia a resistência e a oposição ao saber oficial, as questões relacionadas ao currículo oculto. Também foi debatido em sala com relação ao texto questões a respeito do conhecimento científico, popular e escolar.
Em seguida a segunda resenha apresentada por Paulo sobre o capítulo: O currículo como política cultural. Texto fundamentado em Giroux, que aborda a Teoria Reprodutora: em que a escola reproduz a sociedade. E o debate da resenha girou em torno do potencial do intelectual orgânico por ele ser capaz de provocar mudanças e perceber a realidade desvelando as ideologias. Também debatemos sobre o Mito da Caverna e o homem que se liberta, emancipa.
Uma aula muito interessante!
Tarefa: acessar blogs dos colegas e fazer perguntas e comentários.

8ªAula (06/05/11): Continuamos as apresentações e debates sobre as resenhas.
Iniciamos a aula com a resenha do Kleber: Contra concepção técnica os reconceptualistas, texto fundamentado em Husserl, a fenomenologia. Debatemos sobre as ideias marxistas, a teoria crítica de Frankfurt, o que é o fenômeno, consciência, essência. Também falamos sobre os reconstruturalistas, que desvinculam o currículo dos objetos, da burocracia e o currículo como construção de significado, onde é importante estudar os sujeitos (aluno/professor) do processo e suas identidades.
Continuando seguimos com a resenha da Janet: O currículo como construção social: a nova sociologia da Educação em que debatemos sobre a escola como construção social.
Angela também apresentou sua resenha: Códigos e Reprodução Cultural, em que abordou currículo, elemento, avaliação, código de produção de classes e um conceito até então não abordado: Currículo Coleção.
Tarefa do dia: Escrever um texto reflexivo – Currículo coleção.
9ªAula (13/05/11): A aula iniciou com as colocações da Professora, que retomou as questões a respeito do Pós-estruturalismo, o abandono das ideias do materialismo histórico, da sociedade justa e acontece a disseminação de ideias a respeito do multiculturalismo, ligadas a movimentos das minorias. Aborda também as críticas que as teorias críticas fazem ao pós-estruturalismo, uma vez que esse restringe seu foco.
Em seguida a aula continuou com as apresentações das resenhas, eu apresentei: Quem escondeu o currículo oculto?
Continuando, Patrícia apresentou: Pedagogia do Oprimido X Pedagogia dos Conteúdos, ponto de partida do texto foi a pedagogia freiriana, que busca o conhecimento partindo da realidade, do contexto em que o aluno está inserido. A cultura popular entra na história do currículo. Porém, deve ser evidenciado que cultura é elemento do currículo, mas currículo não é cultura.
Também tivemos a apresentação do Rafael, com o texto: Onde a crítica começa: ideologia, reprodução, resistência.
Tarefa do dia: Relacionar as resenhas com as imagens que recebemos.

10ª Aula (20/05/11): Iniciamos a aula assistindo a audiência pública sobre a situação real da educação no Rio grande do Norte (depoimento da Prof.ª Amanda Gurgel).
Em seguida, discutimos o que havia de currículo no vídeo.
Dando sequência na aula começaram as apresentações das relações imagem/currículo e assim viajamos com nossos colegas pelos lugares mais remotos de nossa imaginação.
Que experiência incrível!

11ª Aula (27/05/11): Continuamos com a apresentação das imagens/currículo e após apresentei o resumo de um texto: Os primórdios dos estudos do cotidiano escolar: o modo oficial de se “ver” a escola e o que nela se passa. Após debatermos o texto fechamos a aula com a conclusão de houve uma mudança de paradigma na teoria crítica o currículo era visto nas cores preto e branco, já na teoria pós-crítica o currículo é multicolorido.
A Professora também nos levou a pensar sobre o paradigma da complexidade (Morin) e nos deixou a tarefa: Escrever sobre currículo e complexidade.
12ª Aula (03/06/11): Um aniversário diferente, pela primeira fez quis comemorar. Talvez seja porque estou vivendo um momento especial junto com pessoas especiais, que estão contribuindo com minhas novas descobertas. Foi um prazer dividir parte deste dia com vocês. Ah! Detalhe, recebi a visita de meu filho e seu amiguinho durante a aula. Ele achou uma aula muito “legal”, diferente, onde professora e alunos estavam juntos conversando. Ele me disse que queria ter uma escola assim.
Bom, vamos a aula que iniciou com o resumo que a Patrícia fez sobre: O Poder do Discurso, que abordou questões como a escola sendo o lugar de circularidade de cultura, onde saberes são reelaborados em torno das diferentes  disciplinas e que nas margens do discurso curricular se comunicam códigos distintos, histórias esquecidas, vozes silenciadas que por vezes se imiscuem com o estabelecido, regulamentado e autorizado. Portanto o aluno é alijado do próprio processo educativo e o conhecimento escolar é o mais importante veículo propulsor da circularidade entre culturas.
A seguir Rafael apresentou: Sentidos e Dilemas do Multiculturalismo, movimento que também foi abarcado pela escola e características multiculturais emergem no currículo, como elas foram abordadas a princípio e depois apresentou alguns caminhos para evitar os erros do multiculturalismo.
Tarefa do dia: Elaborar um texto usando as palavras: política, poder, cultura e currículo relacionando-as com os textos trabalhados.

13ªAula (10/06/11): Rafael apresenta o texto: Marx e Crítica da Educação. Texto que nos levou a refletir muito sobre consciência de classe, recuperação do sentido do trabalho, emancipação e por que o currículo é um projeto político.
Uma aula excepcional! Muitos ensaios aconteceram.

14ª aula (16/06/11): A Prof.ª iniciou a aula retomando algumas questões: Entender currículo é compreender uma narrativa, um discurso.
Em seguida começamos novamente nos textos preparados. Iniciei com o texto: Divisão social do trabalho – divisões educacionais: Qual é a relação?
Tivemos uma pausa e comemoramos mais um aniversário, do nosso colega: Paulo.
A seguir Angela apresentou o texto: Produção, Conhecimento e Educação: Qual a conexão que falta? Foi ressaltada questões sobre educação como um bem público.
OBS: Não assisti apresentação da Janet, Patrícia e Paulo, estenderam o horário da aula. Tive uma atividade avaliativa da outra disciplina e não pude ficar.
 
Conclusão
Enfim, nossas aulas encontros encerraram. Foi uma de experiência de aprendizagem que acredito que nenhum de nós vai esquecer. Crescemos, aprendemos a ouvir e respeitar diferentes opiniões, rimos muito, construímos conhecimentos e aproveitamos de momentos especiais: a sabedoria da nossa professora, que conduziu todo processo com muita destreza.


                                     Ana Carolina Carneiro Lopes









quinta-feira, 16 de junho de 2011

Textualizando 5 : POLÍTICA, PODER, DISCURSO, CULTURA E CURRÍCULO

 
Segundo Foucault, reescrito por Laura Fraga (1994):
Poder não é uma coisa, algo que se toma ou se dá, se ganha ou se perde. É uma relação de forças. Circula em rede e perpassa por todos os indivíduos. Neste sentido não existe o “fora” do poder. Trata-se de um jogo de forças, de lutas transversais presente em toda a sociedade.
Onde há saber, há poder. Mas é importante acrescentar: onde há poder, há resistência... O p
As mudanças políticas, econômicas, sociais, tecnológicas e culturais que ocorreram ao longo do século XX estão sendo repensadas neste início do século XXI. Todas estas mudanças repercutiram no modo de viver das pessoas e da sociedade, afetando assim a cultura do povo. As concepções de cultura começaram a ser questionadas: Qual é cultura verdadeira? A erudita? A popular? E por que não a interação entre as duas ou as duas?
A escola como instituição socializadora, lugar de circularidade entre as culturas e de produção de saberes, não fica alienada a realidade destas transformações mundiais.  O currículo escolar é estruturado de acordo com o discurso da política cultural dominante na sociedade, que molda a consciência e identidade do aluno, alijando-o do seu próprio processo educativo. Percebe-se então um currículo revestido de intencionalidade.
Mas, como foi citado acima: onde há saber, há poder, há resistência, jogo de forças. Os movimentos sociais e as políticas públicas começam a se mobilizar e trazer à tona a voz dos oprimidos e desconfiam dos discursos meramente técnicos. Em resposta a toda esta situação surge um novo movimento, o multiculturalismo, que critica “a cultura” a favor “das culturas”, como também critica a verdade única da ciência.
Portanto, a escola também abarca este movimento e passa a buscar a cidadania multicultural com o objetivo de expurgar qualquer tipo de dogmatismo e radicalismo existente, que só contribui para reproduzir as desigualdades sociais. As práticas multiculturais tendo espaço nos currículos escolares tornam-se ferramentas de contribuição para formar uma sociedade mais justa, menos excludente e discriminatória, onde saber e poder possam contribuir para o processo transformador e libertador do cidadão. Buscar alternativas multiculturais para o currículo escolar proporciona a formação de um cidadão mais flexível, aberto e consciente de sua identidade e do outro.


Ana Carolina Carneiro Lopes

Textualizando 4

Nesta semana, no final da aula de Concepções Contemporâneas sobre Currículo, nossa Profª Rita, lançou um desafio para nós alunos: relacionarmos a gravura que recebemos com o que estamos aprendendo sobre currículo. A princípio pensei o que tem a ver um camelo com currículo e uma rua calçada com pedra empossada pela a água da chuva? Achei muito interessante e comecei a refletir e agora registrar algumas ideias que me vieram na cabeça.
Primeiro vou relacionar as reflexões que fiz sobre o camelo. Quando olhei para a gravura a primeira coisa que questionei foi: É um camelo ou dromedário? Qual a diferença entre ambos? E na escola, quando falo em currículo as pessoas pensam: no currículo ou na grade curricular? Existem diferenças entre as referidas situações? Bem, existem diferenças bem distintas entre camelo/dromedário e currículo/grade curricular, mas nem sempre são definidas, o que permite uma confusão de ideias e conceitos quando referimos a alguma das duas situações. As diferenças precisam ser evidenciadas e a partir daí definir sobre o que estamos na verdade falando ou questionando, para que cada situação seja tratada de maneira específica e coerente. Sendo assim a gravura que estou observando para ser relacionada, após pesquisa, é de um camelo e vou relacioná-lo com o que as pessoas geralmente pensam sobre o currículo. Quando me refiro a um camelo é comum pensar em um animal que possui características bem definidas: é um mamífero, vive no deserto, consegue passar um tempo sem água, é forte, resistente, etc. Conceitos que já estão pré- formados em nossa mente, temos ideias prontas e rotuladas a respeito do camelo e o que sabemos sobre este animal já são suficientes, não carecemos de mais informações, pois ele não faz parte de nossa realidade. Na escola também é comum as pessoas restringirem o currículo, por falta de esclarecimento e de conhecimento, a grade curricular; que nada mais é que um conjunto de disciplinas, com uma mera listagem de informações, que cada série deve trabalhar dentro de uma carga horária específica, com tempos separados e fronteiras bem definidas entre elas. Sendo assim, a idéia de currículo também fica muito restrita como a idéia que temos do camelo. O currículo neste sentido se limita a transmitir conteúdos específicos de cada uma das disciplinas, que resultarão em conhecimentos que são julgados importantes para os alunos se posicionarem na sociedade. O currículo então pode ser entendido como “currículo coleção” (Bernstein), fragmentado, que dificulta as relações entre as disciplinas, que se preocupa com o conteúdo e não com o processo de aprendizagem do aluno. O currículo escolar passa a ter o mesmo sentido que o camelo tem para nós, algo sem significado, ambos estão descontextualizados de um cotidiano. Para Charlot, a relação de identidade com o saber é muito importante, aprender só faz sentido por referência à história do sujeito, às suas expectativas, às suas referências culturais, à sua concepção de vida, às suas relações com os outros, à imagem que se tem de si mesmo e a que se quer dar a si aos outros. Quando se fala em currículo escolar algumas questões básicas precisam ser levantadas, tais como: O que ensinar? A quem ensinar? Quando ensinar? Como ensinar? E o que, como e quando avaliar? Estas questões são importantíssimas para direcionar a prática pedagógica e atingir os objetivos da proposta curricular que é preparar o cidadão para a sociedade, o homem do futuro. Para quem se interessa e precisa do camelo, também vai levantar questões e buscar informações mais detalhes sobre a espécie.  Muito conhecimento oculto sobre este animal acaba sendo desvelado para que ele possa ter sentido para o homem, servindo-o. Para o camelo servir ao homem, precisa ser preparado, treinado, domesticado e então desempenhar seu papel como meio de transporte para determinadas regiões específicas, uma questão cultural. O currículo visto por esta perspectiva também tem a função de preparar, moldar, domesticar o aluno para ocupar seu espaço que lhe é destinado na sociedade. O camelo perdeu suas características inatas e o currículo, que fez no processo de identificação do aluno? Quase não existem mais camelos livres na natureza, ou são domesticados ou estão nos zoológicos. Com relação ao currículo questiono: Que tipo de cidadão a escola está formando? Quem são os homens da nossa sociedade?
  
Partindo para a segunda gravura, minha visão sobre currículo é bem diferente, já o vejo numa perspectiva processual, podemos nos referir a ele como sendo o percurso, a trajetória de formação do aluno. Segundo Sacristán (1998),
o currículo faz parte de uma realidade, de múltiplas práticas que não é apenas a prática pedagógica de ensino, ações de ordem política, administrativas, de supervisão, de produção intelectual, de avaliação, etc., e que, enquanto, são subsistemas em parte autônomos e em parte interdependentes, geram forças diversas que incidem na ação pedagógica. Âmbitos que evoluem historicamente, de um sistema político e social a outro, de um sistema educativo a outro diferente. Todos esses usos geram mecanismos de decisão, tradições, crenças, contextualizações etc. que, de uma forma mais ou menos coerente, vão penetrando nos usos pedagógicos e podem ser apreciados com maior clareza em momentos de mudança (Sacristán, 1998).                
De acordo com a análise que o autor faz de currículo e relacionando com a imagem que observo da rua percebo que: Currículo e rua – percurso, caminho que vai me levar a algum lugar, tudo depende de onde se quer ir, do que se percebe quando o trajeto está sendo feito, das pessoas com quem se encontra, das conversas e do momento da caminhada. O momento da caminhada faz parte de uma realidade objetiva e ao mesmo tempo subjetiva, inserida num cenário que sempre é o mesmo, mas a forma de fazê-lo nunca é a mesma. Existe uma história, um tempo, um espaço.
A rua calçada com pedras irregulares, que denotam um tempo remoto, uma história passada, mas também presente e futura...muitas vidas, muitos segredos, a chuva modificando a paisagem, penetrando e preenchendo os espaços entre as pedras, deixando algumas submersas e outras a vista, refletindo luz, o céu clareando e as nuvens passando, algumas mais leves, outras ainda pesadas deixando a sombra... Assim também o currículo, disciplinas diferentes, umas mais importantes, outras menos, dependendo do momento. Conteúdos em evidência e outros ocultos. Relações entre as disciplinas se estabelecendo resultando a forma como espaços serão preenchidos (concepções de aprendizagem, metodologias, avaliações, organização do espaço/tempo, relações professor/aluno, etc) e assim o processo ensino aprendizagem acontecendo. Informações, conhecimentos (conceituais, procedimentais, atitudinais), sabedoria vão clareando e refletindo no percurso da vida de quem está aprendendo (professor/aluno). As sombras existem, momentos de dificuldade, de não compreensão, falta de esclarecimento, de entrosamento, mas de alguma forma ou de outra, ela passa e no percurso o reflexo da luz ou da sombra.
A rua pertence a um bairro, que forma uma cidade, que está inserida num estado, que forma um país, que faz parte de um continente que completa o mundo. O aluno vem de uma família, faz parte da escola, que está inserida numa sociedade que tem sua cultura, seu sistema econômico, social e político que interferem na realidade, na qual o aluno está inserido.
Rua, um caminho que vai e vem.
Enfim, a rua é a vida de quem está aprendendo!
Ana Carolina Carneiro Lopes