Síntese do Livro
CURRICULOS E PROGRAMAS NO BRASIL1. Perspectivas derivadas dos estudos sobre transferência educacional
(Movimento de idéias, de modelos institucionais e de práticas de um país para outro).
Dois enfoques:
- Imperialismo Cultural
- Neocolonialismo
Imperialismo Cultural:
- Resposta à interpretação liberal do papel da Educação Escolar. Não é a escola que aloca os indivíduos em determinados papéis sociais e sim a origem de classe do indivíduo (sociedade capitalista: posição social). Sendo assim a escola age como instrumento de controle social, ajudando a manter a ordem social.
- O sistema é basicamente justo e os papéis nos quais os alunos serão alocados lhes são adequados.
- A escola não determina a transferência da ordem social, mas necessariamente reproduzem o status quo, atendendo às necessidades do sistema econômico.
- O imperialismo coloniza todos, menos os que tomam as decisões no centro da metrópole.
- Povo receptor: visão passiva.
O processo de transferência educacional visa submeter os povos colonizados aos interesses dos colonizadores.
Os valores e normas passam a ser derivado da metrópole, não da experiência local.
Neocolonialismo:
- Reconhecem que a educação colonial nem sempre alienou o colonizado de sua cultura.
- Baseia-se nas desigualdades essenciais entre nações.
- Nação periférica não é obrigada a aceitar ajuda, mas a vê como benéfica.
- Modificam e adaptam os programas de assistência técnica.
Hoje estudos vão além dos dois enfoques
Os dois enfoques não levam em conta nas interpretações à mediação dos contextos culturais e periféricos, sociais e institucionais dos países centrais e periféricos e por não avaliar devidamente a importância das resistências, adaptações, rejeições e substituições que ocorrem durante o processo.
- Domingues: Análise dos paradigmas curriculares nos Estados Unidos e no Brasil (compreender o campo brasileiro à luz do americano).
- Anos 70 (caráter ideológico em harmonia com os princípios de o governo militar).
- Falta de análise de modelo mais adequada para o contexto brasileiro.
- Os paradigmas determinam um esquema de desenvolvimento para a ciência madura, que não se assemelha ao esquema usual noutros domínios.
- Entendermos o desenvolvimento do campo curricular no Brasil em função das características sócio-econômicas e políticas do nosso país. Analisar suas origens, examinarmos o discurso americano em relação ao desenvolvimento do campo no Brasil.
3. Perspectivas derivadas de estudos sócio-históricos da teoria do currículo nos Estados Unidos.
Fins sociais e políticos que orientam teorias curriculares.
Utiliza categoria de controle social e interesse (adaptar os indivíduos à ordem industrial).
Duas são as concepções de controle social:
a) Explícito ou direto: Modos artificiais e diretos que atuam externamente ao indivíduo, a intenção é através da coerção, alcançar-se homogeneidade de comportamento.
b) Implícito ou indireto: Modos indireto e interno de controle que operam no interior do indivíduo através de processos-pedagógicos.
4. Perspectivas derivadas de estudos sócio-históricos das disciplinas escolares.
- Avaliar contribuições que análises sociológicas das disciplinas escolares podem oferecer ao estudo de currículo e programas no Brasil.
- Explicar por que certo conhecimento é ensinado nas escolas em determinado momento e local e porque ele é conservado, excluído ou alterado.
- Disciplinas: corpos dinâmicos do conhecimento (elaborado por especialistas).
5. Proposta de um enfoque triangular alternativo.
Três pontos básicos serão problematizados:
a. O que foi transferido no contexto original.
b. A realidade sócio-econômica brasileira e sua relação com forças institucionais.
c. Os contextos institucionais e ideativos.
A tradição curricular americana contaminada pela maneira como nossos educadores lidam com as questões curriculares, filtrada diferentes tradições históricas, culturais, políticas e sociais brasileiras e finalmente adulterada ao ser transmitida e utilizada pelos professores e especialistas.
Estudos da história do pensamento curricular americano e brasileiro nos dão diversas contribuições, permitindo entender como os conteúdos ideativos e ideológicos da tradição americana foram transformados no Brasil.
A tradição Curricular Americana Transferida para o Brasil
1. Currículo e interesses: a Classificação de Macdonald
- Inclui diversas tendências e correntes do pensamento curricular (mesma teoria baseada em diferentes interesses)
Justificativa
a) O conhecimento curricular é o conhecimento humano;
a) O conhecimento curricular é o conhecimento humano;
b) O objetivo do conhecimento curricular é o conhecimento escolar-sua seleção, organização e transmissão.
Os três interesses básicos: controle técnico/ interesse em compreensão (prático)/ interesse em emancipação (crítico) são considerados como fontes das diferenças da teoria/ prática.
- Transmissão Curricular visa um interesse de controle.
- Com relação a organização curricular por disciplinas Mac, associa o interesse em controle ao currículo por disciplinas (Modelos de Bloom e Brunner).
- Currículos centrados em problemas sociais são vistos como refletindo um interesse em compreensão.
- Currículos centrados na criança ou em pessoa são relacionados a interesses emancipatórios.
- Surgindo as diferenças em valores, levam as diferentes modelos de desenvolvimento curricular.
b) O modelo circular-consensual: é associado com movimentos comunitários de base.
O pessoal das escolas é envolvido no processo e a participação do especialista ocorre quando necessária ou desejada
c) O modelo-dialógico: caracterizado pelo envolvimento de estudantes no processo de desenvolvimento curricular, requer diálogo entre professores e alunos (propõe Paulo Freire).
Emancipação individual ao invés de realçar a necessidade de melhoria de igualdade social.
O campo do currículo no Brasil no início fica restrito ao modelo técnico-linear.
Influencia de Dewey no campo curricular e nas idéias escolanovistas.
O campo do currículo no Brasil no início fica restrito ao modelo técnico-linear.
Influencia de Dewey no campo curricular e nas idéias escolanovistas.
O Campo do Currículo no Brasil – Origens e Desenvolvimento Inicial
1- Suas origens nos anos vinte e trinta
2- Sua introdução na universidade brasileira e seu desenvolvimento
Anos 1920 e 1930: Importantes transformações econômicas, sociais, culturais, políticas e ideológicas.
- Literatura refletia idéias propostas pelos americanos, associados aos autores europeus.
- Escola Nova – superar limitações da tradição pedagógica jesuítica e da tradição enciclopédica (influência da França).
- Reformas educacionais promovidas pelo INEP (Instituto Nacional de estudos e Pesquisas Educacionais) e pelo PABAEE (Programa de Assistência Brasileira-Americana à Educação Elementar). Idéias progressistas X Idéias tecnicista.
- Preocupação com aspectos técnicos e questões sociais (os pioneiros não formavam grupos homogêneos).
Anos de 1964: Golpe militar - todo panorama político, econômico, ideológico e educacional sofre transformações.
- Diversos acordos com EUA visando modernização e racionalização.
- Espalharam-se discussão sobre currículo e a disciplina Currículos e Programas foram introduzidos nos cursos superiores.
- Tendência tecnicista passou prevalecer (preocupação: eficiência do processo pedagógico)- treinamento do capital humano do país.
As Origens do Campo do Currículo no Brasil
Na década de 20: Bahia, Minas Gerais e Distrito Federal – 1º esforço de sistematização do processo curricular.
1- A Contribuição dos Pioneiros para a Emergência do Campo do Currículo no Brasil
Pioneiros organizaram reforma do sistema educacional – não havia ainda sistematização da questão curricular.
Tendências curriculares no Brasil:
a). Ênfase nas disciplinas literárias e acadêmicas;
b). Enciclopedismo;
c). Divisão entre trabalho manual e intelectual.
Após 1ª Guerra: Caráter elitista do ensino e currículo e questionamento (indústria é organizada: mudando relação com países industrializados).
- Necessidade de alfabetizar trabalhadores (começam então exigir expansão do Sistema educacional).
Alfabetização implica mudança do poder político.
(Idéias liberais/ anarquistas/ ideologia nacionalista/ associações católicas/ tenentismo/ modernismo/ etc...).
Período caracterizado por tentativas de mudança da estrutura de poder, redefinição das funções do Estado, novos rumos no processo de industrialização e reorganização da educação.
- Aumenta influência do EUA.
- Reformas educacionais promovidas em alguns estados:
- Antônio Sampaio Dória (1920) – Tentou erradicar analfabetismo em São Paulo (obrigatório 2 anos de escolarização). Ênfase na expansão quantitativa da rede de ensino primário.
- Novas perspectivas em relação ao currículo na Bahia (promovida por Anísio Teixeira).
- Disciplinas escolares consideradas instrumentos para alcançar determinados fins (capacitar indivíduo para viver em sociedade – não só crescimento intelectual, mas social, moral, emocional e físico).
- Considerar as necessidades e estágios de desenvolvimento.
- Currículo centrado em disciplinas de acordo a realidade e possibilidade do estado (carente de professores)
- Atender as necessidades sociais (currículo intermediário entre escola e sociedade).
- Francisco Campos e Mario Casassanta, em Minas Gerais: pensamento Escola Nova sistematizado.
- Definiu o papel da escola elementar (cada escola transforma em mini sociedade).
- Crianças não são adultos em miniaturas.
- Progressivismo: realce nos trabalhos de grupos, processo ativo de ensino em aprendizagem, ambientes instrucionais democráticos, cooperação entre professor/aluno, conexão entre conteúdo do currículo e a vida real.
- Currículos e Programas foram introduzidos como instrumentos para desenvolver na criança habilidades de observar, pensar, julgar, criar, decidir e agir.
- Ênfase na qualidade.
- Método de “centro de interesses”.
- Atividades tais como: visitas, excursões, organizações de museus e clubes escolares, bibliotecas...
- Programas organizados Inspetoria Geral de Instrução.
- Reforma do Distrito Federal: foi a mais revolucionária e sofisticada feita por Fernando Azevedo.
- Organizar sistema escolar de acordo com os princípios filosóficos coerentes.
- Enfatizou tarefas sociais do sistema escolar.
As reformas elaboradas pelos pioneiros representaram rompimento com a escola tradicional. Apesar da preocupação com a reconstrução social, a maior contribuição das reformas acabou por limitar-se a novos métodos e técnicas (necessidade de ordem industrial emergente).
2 – O Desenvolvimento do Campo do Currículo no INEP
- Conflitos sociais e políticos no Brasil levam a revolução de 30 – Getúlio no poder por 15 anos. Buscou-se refletir em diferentes condições históricas a experiência de industrialização dos paises desenvolvidos.
- Criou-se um estado populista.
- Indústrias recebem todo apoio (desenvolvimento econômico e autonomia).
- 1937: período autoritário: Estado Novo (debate sobre a educação foi encerrado).
- Na constituição: religiosos lutaram por uma educação subordinada a doutrina religiosa e os pioneiros a favor de uma escola universal, única, gratuita e obrigatória.
- Houve equilíbrio dos dois grupos
- Estado Novo: ênfase no ensino profissionalizante e postura conservadora, currículos enciclopédicos. Especialistas educacionais introduzidos nas escolas.
- No ano de 1938 foi criado o INEP:
a. Organização de documentos pedagógicos;
b. Promoção de inquéritos e pesquisas educacionais;
c. Intercambio com instituições educacionais nacionais e internacionais;
d. Promoção de investigações no terreno da psicologia educacional e da orientação profissional;
e. Assistência aos serviços estaduais, municipais e particulares de educação;
f. Difusão do conhecimento pedagógico;
g. Cooperação com Departamento Administrativo do Serviço Publico – DASP.
- Em 1952, Anísio Teixeira nomeado diretor do INEP:
- Primeiro livro texto sobre currículo.
- Cursos sobre currículo em vários locais do país.
- Cursos de planejamento curricular e cursos de especialistas são oferecidos.
- Teoria curricular representa as idéias progressistas (ênfase no desenvolvimento individual com bem estar coletivo).
- O enfoque curricular do INEP enfatiza que a escola primária deve ajudar a integrar o país na civilização ocidental do século 20.
- Currículo centrado nas experiências da criança.
- O resultado final é uma teoria curricular inconsciente (idéias das tendências tecnicistas e progressivistas são combinadas com elementos da tradição católica – estranho mosaico de princípios e técnicas).
3 – O Desenvolvimento do Campo do Currículo no PABAEE
- 1951: Getúlio eleito pelo povo retorna ao poder até 1954.
- 1956 Juscelino é eleito – ajuda americana abrange diversas áreas inclusive a educação.
- Em 11 de abril de 1956 firmou-se o acordo entre Brasil e EUA (PABAEE):
- Treinar supervisores do ensino profissionalizantes e professores das escolas normais.
- Produzir, adaptar e distribuir materiais didáticos para os professores.
- Selecionar professores competentes para enviá-los aos EUA para treinamentos.
- Currículos organizados por áreas de estudos ao invés do currículo por disciplinas.
Programas para cada uma das áreas nos quais obedecem a tradição seqüencial:
objetivos, conteúdo, atividades e avaliação.
Programas para cada uma das áreas nos quais obedecem a tradição seqüencial:
objetivos, conteúdo, atividades e avaliação.
- Aplicação do método científico às diversas esferas do processo do curricular.
- A escola tem responsabilidade de integrar o aluno no seu meio físico e cultural, de ajudá-lo a assimilar nossa herança cultural.
- Enfatiza interação entre individuo e sociedade.
- Predominância de elementos tecnicistas e progressivistas, controle técnico até na elaboração dos currículos.
Conclusões:
- Origens do pensamento curricular brasileiro: nos anos 20 e 30 reformas organizadas pelos pioneiros – ideário escolanovista.
- Tradição clássica e do tecnicismo constituem bases teóricas para os primeiros cursos em currículo.
- Currículo que contribuísse para a coesão social, que formasse cidadão em mudança e que atendesse as necessidades da ordem industrial emergente.
- Introdução de Currículos e Programas nas universidades brasileiras (favorecido pela Li de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - lei 4.024/1971):
- Preocupação vaga com o ensino primário.
- Flexibilidade para escolas secundárias, permitindo que se definissem parte de seus currículos.
- Floresceram experiências pedagógica-administrativas.
DESENVOLVIMENTO DO CAMPO DO CURRICULO NO BRASIL NOS ANOS 60 E 70
- 1962: Currículos e Programas introduzidos no curso de Pedagogia.
- Nos anos 70 primeiros mestrados em Currículo.
- Surgimento de teorias e práticas pedagógicas críticas.
- Após o golpe de 64: transformações políticas, econômicas e ideológicas (tendência tecnicistas).
- 1968: reforma universitária – reorganização do curso de pedagogia.
- Predominância de idéias tecnicistas, porém idéias progressivistas também estiveram presentes.
Conclusões:
- Muita produção industrial, pouco consumo: surgimento do modelo socialista.
- Debates sobre questões educacionais: campanha de alfabetização de adultos, criação de centro de cultura popular e organização do movimento de educação de base.
- Tendência pedagógica crítica (Paulo Freire) – questões educacionais mais voltadas para uma abordagem sociológica.
- LDB.
- 1970: influência tecnicista.
- 1980: diminuição da influência americana, aumento da influência européia.
- Nova LDB.
- Preocupação com o primeiro grau (ensino de crianças das camadas mais carentes).
- Fracasso do sistema educacional no Brasil.
- 1985: Política educacional do governo Sarney era Educação para Todos. Compromisso com a democracia e a justiça social.
- Debates, congressos, seminários ocorreram alargando cada vez mais a base institucional.
Antonio Flávio B. Moreira
Editora Papirus