quarta-feira, 18 de maio de 2011

TEXTUALIZANDO 2

Currículo Coleção?

Quando referimos ao termo “currículo coleção” questionamos sobre as concepções se contrapuseram sobre o tema: o ponto de vista de Bernstein e o de Forquim.
Para Bernstein, no “currículo coleção” o conhecimento é encarado como algo sagrado, que nem todos têm acesso, funciona como uma propriedade privada, privilégio de poucos, com a sua própria estrutura de poder, onde “as disciplinas ou matérias singulares são narcisistas, orientadas para seu próprio desenvolvimento mais do que para aplicações fora de si mesmas” (BERNSTEIN, 1993 apud SANTOMÉ, 1998, p.107). Sendo assim o currículo coleção é excludente, prioriza conteúdo e não o processo aprendizagem, o aluno é apenas um receptor de conhecimentos que serão indispensáveis para o seu posicionamento na sociedade.
Na teorização de Bernstein (in Domingos et al.,1985, p. 161):
à medida que decorre a vida escolar e que vai se processando a especialização, os alunos vão sendo selecionados de modo a serem eliminados aqueles que não são capazes de atingir a última etapa da caminhada em que todos estavam inicialmente envolvidos. Assim, os alunos que ultrapassam a etapa do“noviciado”adquirem uma identidade educacional que dificilmente será alterada, enquanto aqueles que fracassam, sentem o conhecimento como algo de doloroso, situação designada por Bourdieu como violência simbólica.
Bernstein critica o “currículo coleção” por ser fragmentado, compartimentalizado, que dificulta as relações entre as disciplinas, sendo um currículo linear- disciplinar em que não há uma socialização apropriada do conhecimento e nem integração dos saberes escolares com os saberes cotidianos, tornando os conteúdos disciplinares o dogma do conhecimento.
Segundo Bernstein:
[...] um enfraquecimento das compartimentações entre os saberes pode favorecer a invenção, a criatividade intelectual, convidando o aluno a descobrir e a fazer funcionar certas estruturas lógicas profundas dos saberes, por oposição às divisões e especificações superficiais inscritas na configuração tradicional das matérias escolares (in Forquin, 1993, p. 88).
 De acordo com este ponto de vista o autor defende a integração das disciplinas, o currículo integração, para que haja uma idéia de relação de subordinação entre elas. Afirma também, que existindo mais flexibilidade no código integrado das disciplinas o professor se sentirá mais livre para trabalhar o conteúdo, sem ficar preso a um ritmo, tempo e espaço. Um outro aspecto do “currículo coleção” é comentado por Forquin (1993) ao referir que as ações, as intenções, as decisões acontecem na opacidade. Segundo o pesquisador:
o professor “serial” ( que trabalha na perspectiva de um código coleção) sofre certamente de falta de transparência na vida de seu estabelecimento, mas ao mesmo tempo se beneficia dela. Uma vez fechado na sua sala de aula com seus alunos, ele pode mais ou menos fazer o que quer, sem ter de prestar contas a ninguém, no limite, é verdade, do respeito aos programas e às instruções oficiais, tiranos mais abstratos e razoavelmente conciliantes[...] (Forquin, 1993, p.89).
Forquin defende o “currículo coleção”, integrado, porque através deste o professor poderá garantir sua autonomia e trabalhar as ações modificadoras, pois suas ideologias são implícitas. Analisando as concepções a respeito de “currículo coleção” podemos concluir que é necessário que todo sistema de ensino repense e redimensione a organização curricular para que o conhecimento científico seja transformado em conhecimento escolar, recupere o lugar do saber  explicitando e homogeneizando a base ideológica dos docentes e assim a escola possa deixar de ser reprodutora da sociedade.
Referência Bibliográfica:
Silva, T. Tadeu. Documentos de Identidade: uma introdução às teorias do currículo. 3ª Ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2011.

Um comentário:

  1. O diálogo entre Bersntein e Forquin está bastante frutífero. Merece, inclusive um desenolvimento maior e pode resultar num bom artigo. Pense sobre isso. Muito bom!

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