terça-feira, 19 de abril de 2011

LEITURAS COMPLEMENTARES

Síntese do Livro
CURRICULOS E PROGRAMAS NO BRASIL
1. Perspectivas derivadas dos estudos sobre transferência educacional
(Movimento de idéias, de modelos institucionais e de práticas de um país para outro).
Dois enfoques:
    • Imperialismo Cultural
    • Neocolonialismo
Imperialismo Cultural:
  • Resposta à interpretação liberal do papel da Educação Escolar. Não é a escola que aloca os indivíduos em determinados papéis sociais e sim a origem de classe do indivíduo (sociedade capitalista: posição social). Sendo assim a escola age como instrumento de controle social, ajudando a manter a ordem social.
  • O sistema é basicamente justo e os papéis nos quais os alunos serão alocados lhes são adequados.
  • A escola não determina a transferência da ordem social, mas necessariamente reproduzem o status quo, atendendo às necessidades do sistema econômico.
  • O imperialismo coloniza todos, menos os que tomam as decisões no centro da metrópole.
  • Povo receptor: visão passiva.
O processo de transferência educacional visa submeter os povos colonizados aos interesses dos colonizadores.
Os valores e normas passam a ser derivado da metrópole, não da experiência local.
Neocolonialismo:
  • Reconhecem que a educação colonial nem sempre alienou o colonizado de sua cultura.
  • Baseia-se nas desigualdades essenciais entre nações.
  • Nação periférica não é obrigada a aceitar ajuda, mas a vê como benéfica.
  • Modificam e adaptam os programas de assistência técnica.
Hoje estudos vão além dos dois enfoques
Os dois enfoques não levam em conta nas interpretações à mediação dos contextos culturais e periféricos, sociais e institucionais dos países centrais e periféricos e por não avaliar devidamente a importância das resistências, adaptações, rejeições e substituições que ocorrem durante o processo.

2. Perspectivas derivadas das análises do campo curricular nos Estados  Unidos e  no Brasil
  • Domingues: Análise dos paradigmas curriculares nos Estados Unidos e no Brasil (compreender o campo brasileiro à luz do americano).
  • Anos 70 (caráter ideológico em harmonia com os princípios de o governo militar).
  • Falta de análise de modelo mais adequada para o contexto brasileiro.
  • Os paradigmas determinam um esquema de desenvolvimento para a ciência madura, que não se assemelha ao esquema usual noutros domínios.
  • Entendermos o desenvolvimento do campo curricular no Brasil em função das características sócio-econômicas e políticas do nosso país. Analisar suas origens, examinarmos o discurso americano em relação ao desenvolvimento do campo no Brasil.
3. Perspectivas derivadas de estudos sócio-históricos da teoria do currículo nos Estados Unidos.
Fins sociais e políticos que orientam teorias curriculares.
Utiliza categoria de controle social e interesse (adaptar os indivíduos à ordem industrial).
Duas são as concepções de controle social:

a) Explícito ou direto: Modos artificiais e diretos que atuam externamente ao indivíduo, a intenção é através da coerção, alcançar-se homogeneidade de comportamento.
b) Implícito ou indireto: Modos indireto e interno de controle que operam no interior do indivíduo através de processos-pedagógicos.

4. Perspectivas derivadas de estudos sócio-históricos das disciplinas escolares.
  • Avaliar contribuições que análises sociológicas das disciplinas escolares podem oferecer ao estudo de currículo e programas no Brasil.
  • Explicar por que certo conhecimento é ensinado nas escolas em determinado momento e local e porque ele é conservado, excluído ou alterado.
  • Disciplinas: corpos dinâmicos do conhecimento (elaborado por especialistas).
5. Proposta de um enfoque triangular alternativo.
Três pontos básicos serão problematizados:
      a. O que foi transferido no contexto original.
      b. A realidade sócio-econômica brasileira e sua relação com forças institucionais.
      c. Os contextos institucionais e ideativos.

A tradição curricular americana contaminada pela maneira como nossos educadores lidam com as questões curriculares, filtrada diferentes tradições históricas, culturais, políticas e sociais brasileiras e finalmente adulterada ao ser transmitida e utilizada pelos professores e especialistas.
Estudos da história do pensamento curricular americano e brasileiro nos dão diversas contribuições, permitindo entender como os conteúdos ideativos e ideológicos da tradição americana foram transformados no Brasil.

A tradição Curricular Americana Transferida para o Brasil

1. Currículo e interesses: a Classificação de Macdonald
  • Inclui diversas tendências e correntes do pensamento curricular (mesma teoria baseada em diferentes interesses)
Justificativa
a)  O conhecimento curricular é o conhecimento humano;
b)  O objetivo do conhecimento curricular é o conhecimento escolar-sua seleção, organização e transmissão.
Os três interesses básicos: controle técnico/ interesse em compreensão (prático)/ interesse em emancipação (crítico) são considerados como fontes das diferenças da teoria/ prática.
  • Transmissão Curricular visa um interesse de controle.
  • Com relação a organização curricular por disciplinas Mac, associa o interesse em controle ao currículo por disciplinas (Modelos de Bloom e Brunner).
  • Currículos centrados em problemas sociais são vistos como refletindo um interesse em compreensão.
  • Currículos centrados na criança ou em pessoa são relacionados a interesses emancipatórios.
  • Surgindo as diferenças em valores, levam as diferentes modelos de desenvolvimento curricular.
a) Modelo técnico-linear: especialista domina o processo com a intenção de garantir o controle e maximizar o rendimento.
b) O modelo circular-consensual: é associado com movimentos comunitários de base.

O pessoal das escolas é envolvido no processo e a participação do especialista ocorre quando necessária ou desejada
c) O modelo-dialógico: caracterizado pelo envolvimento de estudantes no processo de desenvolvimento curricular, requer diálogo entre professores e alunos (propõe Paulo Freire).

Emancipação individual ao invés de realçar a necessidade de melhoria de igualdade social.
O campo do currículo no Brasil no início fica restrito ao modelo técnico-linear.
Influencia de Dewey no campo curricular e nas idéias escolanovistas.
      O Campo do Currículo no Brasil – Origens e Desenvolvimento Inicial
                     1- Suas origens nos anos vinte e trinta
                     2- Sua introdução na universidade brasileira e seu desenvolvimento
Anos 1920 e 1930: Importantes transformações econômicas, sociais, culturais, políticas e ideológicas.
  • Literatura refletia idéias propostas pelos americanos, associados aos autores europeus.
  • Escola Nova – superar limitações da tradição pedagógica jesuítica e da tradição enciclopédica (influência da França).
  • Reformas educacionais promovidas pelo INEP (Instituto Nacional de estudos e Pesquisas Educacionais) e pelo PABAEE (Programa de Assistência Brasileira-Americana à Educação Elementar). Idéias progressistas X Idéias tecnicista.
  • Preocupação com aspectos técnicos e questões sociais (os pioneiros não formavam grupos homogêneos).
Anos de 1964: Golpe militar - todo panorama político, econômico, ideológico e educacional sofre transformações.
  • Diversos acordos com EUA visando modernização e racionalização.
  • Espalharam-se discussão sobre currículo e a disciplina Currículos e Programas foram introduzidos nos cursos superiores.
  • Tendência tecnicista passou prevalecer (preocupação: eficiência do processo pedagógico)- treinamento do capital humano do país.
As Origens do Campo do Currículo no Brasil
Na década de 20: Bahia, Minas Gerais e Distrito Federal – 1º esforço de sistematização do processo curricular.

1- A Contribuição dos Pioneiros para a Emergência do Campo do Currículo no Brasil
Pioneiros organizaram reforma do sistema educacional – não havia ainda sistematização da questão curricular.
Tendências curriculares no Brasil:
   a). Ênfase nas disciplinas literárias e acadêmicas;
   b). Enciclopedismo;
   c). Divisão entre trabalho manual e intelectual.

Após 1ª Guerra: Caráter elitista do ensino e currículo e questionamento (indústria é organizada: mudando relação com países industrializados).
  • Necessidade de alfabetizar trabalhadores (começam então exigir expansão do Sistema educacional).
Alfabetização implica mudança do poder político.
(Idéias liberais/ anarquistas/ ideologia nacionalista/ associações católicas/ tenentismo/ modernismo/ etc...).
Período caracterizado por tentativas de mudança da estrutura de poder, redefinição das funções do Estado, novos rumos no processo de industrialização e reorganização da educação.
  • Aumenta influência do EUA.
  • Reformas educacionais promovidas em alguns estados:
    • Antônio Sampaio Dória (1920) – Tentou erradicar analfabetismo em São Paulo (obrigatório 2 anos de escolarização). Ênfase na expansão quantitativa da rede de ensino primário.
    • Novas perspectivas em relação ao currículo na Bahia (promovida por Anísio Teixeira).
  • Disciplinas escolares consideradas instrumentos para alcançar determinados fins (capacitar indivíduo para viver em sociedade – não só crescimento intelectual, mas social, moral, emocional e físico).
  • Considerar as necessidades e estágios de desenvolvimento.
  • Currículo centrado em disciplinas de acordo a realidade e possibilidade do estado (carente de professores)
  • Atender as necessidades sociais (currículo intermediário entre escola e sociedade).
    • Francisco Campos e Mario Casassanta, em Minas Gerais: pensamento Escola Nova sistematizado.
  • Definiu o papel da escola elementar (cada escola transforma em mini sociedade).
  • Crianças não são adultos em miniaturas.
  • Progressivismo: realce nos trabalhos de grupos, processo ativo de ensino em aprendizagem, ambientes instrucionais democráticos, cooperação entre professor/aluno, conexão entre conteúdo do currículo e a vida real.
  • Currículos e Programas foram introduzidos como instrumentos para desenvolver na criança habilidades de observar, pensar, julgar, criar, decidir e agir.
  • Ênfase na qualidade.
  • Método de “centro de interesses”.
  • Atividades tais como: visitas, excursões, organizações de museus e clubes escolares, bibliotecas...
  • Programas organizados Inspetoria Geral de Instrução.
    • Reforma do Distrito Federal: foi a mais revolucionária e sofisticada feita por Fernando Azevedo.
  • Organizar sistema escolar de acordo com os princípios filosóficos coerentes.
  • Enfatizou tarefas sociais do sistema escolar.
As reformas elaboradas pelos pioneiros representaram rompimento com a escola tradicional. Apesar da preocupação com a reconstrução social, a maior contribuição das reformas acabou por limitar-se a novos métodos e técnicas (necessidade de ordem industrial emergente).

2 – O Desenvolvimento do Campo do Currículo no INEP
  • Conflitos sociais e políticos no Brasil levam a revolução de 30 – Getúlio no poder por 15 anos. Buscou-se refletir em diferentes condições históricas a experiência de industrialização dos paises desenvolvidos.
  • Criou-se um estado populista.
  • Indústrias recebem todo apoio (desenvolvimento econômico e autonomia).
  • 1937: período autoritário: Estado Novo (debate sobre a educação foi encerrado).
  • Na constituição: religiosos lutaram por uma educação subordinada a doutrina religiosa e os pioneiros a favor de uma escola universal, única, gratuita e obrigatória.
  • Houve equilíbrio dos dois grupos
  • Estado Novo: ênfase no ensino profissionalizante e postura conservadora, currículos enciclopédicos. Especialistas educacionais introduzidos nas escolas.
  • No ano de 1938 foi criado o INEP:
    a.
    Organização de documentos pedagógicos;
    b. Promoção de inquéritos e pesquisas educacionais;
    c. Intercambio com instituições educacionais nacionais e internacionais;
    d. Promoção de investigações no terreno da psicologia educacional e da orientação profissional;
    e. Assistência aos serviços estaduais, municipais e particulares de educação;
    f. Difusão do conhecimento pedagógico;
    g. Cooperação com Departamento Administrativo do Serviço Publico – DASP.
  • Em 1952, Anísio Teixeira nomeado diretor do INEP:
                 - Primeiro livro texto sobre currículo.
                 - Cursos sobre currículo em vários locais do país.
  • Cursos de planejamento curricular e cursos de especialistas são oferecidos.
  • Teoria curricular representa as idéias progressistas (ênfase no desenvolvimento individual com bem estar coletivo).
  • O enfoque curricular do INEP enfatiza que a escola primária deve ajudar a integrar o país na civilização ocidental do século 20.
  • Currículo centrado nas experiências da criança.
  • O resultado final é uma teoria curricular inconsciente (idéias das tendências tecnicistas e progressivistas são combinadas com elementos da tradição católica – estranho mosaico de princípios e técnicas).
3 – O Desenvolvimento do Campo do Currículo no PABAEE
  • 1951: Getúlio eleito pelo povo retorna ao poder até 1954.
  • 1956 Juscelino é eleito – ajuda americana abrange diversas áreas inclusive a educação.
  • Em 11 de abril de 1956 firmou-se o acordo entre Brasil e EUA (PABAEE):
         - Treinar supervisores do ensino profissionalizantes e professores das escolas normais.
         - Produzir, adaptar e distribuir materiais didáticos para os professores.
         - Selecionar professores competentes para enviá-los aos EUA para treinamentos.
         - Currículos organizados por áreas de estudos ao invés do currículo por disciplinas.
            Programas para cada uma das áreas nos quais obedecem a tradição seqüencial:
            objetivos, conteúdo, atividades e avaliação.
  • Aplicação do método científico às diversas esferas do processo do curricular.
  • A escola tem responsabilidade de integrar o aluno no seu meio físico e cultural, de ajudá-lo a assimilar nossa herança cultural.
  • Enfatiza interação entre individuo e sociedade.
  • Predominância de elementos tecnicistas e progressivistas, controle técnico até na elaboração dos currículos.
Conclusões:
  • Origens do pensamento curricular brasileiro: nos anos 20 e 30 reformas organizadas pelos pioneiros – ideário escolanovista.
  • Tradição clássica e do tecnicismo constituem bases teóricas para os primeiros cursos em currículo.
  • Currículo que contribuísse para a coesão social, que formasse cidadão em mudança e que atendesse as necessidades da ordem industrial emergente.
  • Introdução de Currículos e Programas nas universidades brasileiras (favorecido pela Li de Diretrizes e Bases da Educação Nacional -  lei 4.024/1971):
    • Preocupação vaga com o ensino primário.
    • Flexibilidade para escolas secundárias, permitindo que se definissem parte de seus currículos.
    • Floresceram experiências pedagógica-administrativas.
DESENVOLVIMENTO DO CAMPO DO CURRICULO NO BRASIL NOS ANOS 60 E 70
  • 1962: Currículos e Programas introduzidos no curso de Pedagogia.
  • Nos anos 70 primeiros mestrados em Currículo.
  • Surgimento de teorias e práticas pedagógicas críticas.
  • Após o golpe de 64: transformações políticas, econômicas e ideológicas (tendência tecnicistas).
  • 1968: reforma universitária – reorganização do curso de pedagogia.
  • Predominância de idéias tecnicistas, porém idéias progressivistas também estiveram presentes.
Conclusões:
  • Muita produção industrial, pouco consumo: surgimento do modelo socialista.
  • Debates sobre questões educacionais: campanha de alfabetização de adultos, criação de centro de cultura popular e organização do movimento de educação de base.
  • Tendência pedagógica crítica (Paulo Freire) – questões educacionais mais voltadas para uma abordagem sociológica.
  • LDB.
  • 1970: influência tecnicista.
  • 1980: diminuição da influência americana, aumento da influência européia.
  • Nova LDB.
  • Preocupação com o primeiro grau (ensino de crianças das camadas mais carentes).
  • Fracasso do sistema educacional no Brasil.
  • 1985: Política educacional do governo Sarney era Educação para Todos. Compromisso com a democracia e a justiça social.
  • Debates, congressos, seminários ocorreram alargando cada vez mais a base institucional.
Livro: Currículos e Programas no Brasil
            Antonio Flávio B. Moreira
            Editora Papirus

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