terça-feira, 14 de junho de 2011

RESENHA - Divisão social do trabalho – divisões educacionais: Qual a relação?

RESENHA
Divisão social do trabalho – divisões educacionais: Qual a relação?
Livro: O que produz e o que reproduz em educação. Ensaios de Sociologia da Educação.
Tomaz Tadeu da Silva .Artes Médicas, 1992.

O presente trabalho tem o objetivo de mostrar as relações entre educação e trabalho e a forma como as divisões de trabalho e as divisões educacionais estão mutuamente implicadas.
As teorias que abordam as relações entre a divisão capitalista de trabalho e a estrutura de funcionamento da educação são conhecidas como teorias críticas da educação ou teorias da reprodução ou então chamada como nova sociologia da educação (Young,1970).
Para as teorias críticas de inspiração marxista, a sociedade divide-se em duas classes definidas por uma relação econômica: proprietários e não-proprietários dos meios de produção, que possuem objetivos opostos. Os proprietários buscam a auto-valorização, expansão de seu capital e explorar os não-proprietários que por sua vez lutam contra este processo.
O processo de auto-valorização decorrente da divisão de trabalho facilitará o processo de extração da mais-valia que resultará no trabalho manual e no trabalho intelectual.
Sendo assim a educação institucionalizada, de acordo com as teorias críticas, apesar de não ter criado esta divisão de trabalho reflete a situação. A maioria da literatura a respeito dá ênfase à contribuição da educação em produzir pessoas com caracterização de socialização adequadas à divisão social do trabalho, aspecto que evidencia a preparação de ideológica da força de trabalho em que há um treinamento das habilidades técnicas exigidas. Mas, segundo Althusser (1983), esse treinamento é minimizado em função precisamente das exigências técnicas diminuídas de um processo de trabalho dividido, fragmentado, trivializado. A escola tem a tarefa de moldar ideologicamente a força de trabalho que será exigida no futuro posto no processo de produção.
Desta forma percebe-se que as teorias críticas da educação difere das marxistas com relação a noção de qualificação de trabalho. As teorias marxistas supõe a existência de um trabalho qualificado no âmbito do processo de trabalho capitalista (com a noção de de3squalificação) e as teorias criticas de educação analisam o trabalho manual de forma global, supostamente desqualificado, genérico, abstrato, indiferenciado. Percebe-se então um paradoxo entre a teoria critica da educação e o discurso ideário educativo liberal que tem moldado o discurso educacional brasileiro. Portanto, as teorias críticas da educação ignoram amplamente o conceito de qualificação.
Nas teorias marxistas a divisão de trabalho e a qualificação teve incluir o conteúdo de qualificação, como a qualificação é adquirida e transmitida, qual seu papel no processo de valorização e acumulação do capital e consequentemente na divisão social do trabalho e na subordinação do trabalho capital. Ao considerar estes conteúdos torna-se possível perceber todas as transformações por que passou o processo de trabalho. Com relação ao desenvolvimento do processo de trabalho capitalista Marx refere-se às etapas de cooperação, manufatura, e maquinofatura. A partir das ideias de Marx, Braverman (1977) analisa o processo de qualificação/ desqualificação da força de trabalho com um processo de desqualificação crescente. Situação exemplificada pelo trabalho do artesanal (que para Marx era considerado o trabalhador completo e integral) que antes valorizado e depois desvalorizado, cuja degradação se deve a separação entre concepção e execução; trabalho intelectual e manual.
Segundo Marx na etapa de progressão e cooperação o que vai ser destacado são  as vantagens para o capital de se reunir num mesmo local vários trabalhadores. É o desenvolvimento da manufatura, diversas atividades executadas por vários trabalhadores, executar repetidamente uma e mesma atividade unilateral, o que acaba desqualificando o trabalhador. Dando sequencia a esse processo, veremos a maquinofatura, separação entre componentes intelectuais e manuais do processo de trabalho que parece estar na base do processo de desqualificação do trabalhador. A maquinaria mais eficiente substitui o que ainda resta de um saber do trabalhador da manufatura. Mas o lado positivo da maquinaria é que o trabalhador não fica restrito a uma única atividade por toda vida, o que na realidade não acontece. Sendo assim ao subordinar-se ao sistema de máquina ocorrerá um esvaziamento do conteúdo de trabalho, que é o processo de separação devido à maquinaria. Com o desenvolvimento da indústria surge à variação do trabalho, fluidez da função, mobilidade, em todos os sentidos... possibilitando a combinação de educação com trabalho produtivo. Portanto, Marx não evidencia o conceito de qualificação, que fica implícito na descrição de sistema de produção capitalista e do que isto implica em termos de desqualificação do trabalhador. Qualificação então passa a ser o domínio completo de habilidades intelectuais e manuais, portanto a auto-valorização por parte do capital leva a uma crescente divisão de trabalho e a um desenvolvimento de sistema de máquinas que leva a uma separação entre o trabalho manual e intelectual. O trabalho a ser subordinado ao capital e passa a ter sua valorização de acordo com sua mais-valia.
Os estudos sobre o processo de trabalho e o conceito de qualificação continuam a ser visto por Braverman (1977) que mostra como com o desenvolvimento do processo de produção capitalista busca a auto-valorização do capital, que acentua a divisão de trabalho e a transferência crescente  dos conhecimentos e habilidades, do trabalhador, para o sistema técnico. O Braverman descreve de taylorismo, processo de trabalho dividido em seus mínimos detalhes, o que conhecimento que cada trabalhador tem que ter deste processo, e o controle também que cada trabalhador sofrerá. Tendência esta que segundo Braverman também se estende aos trabalhos intelectuais. Seguido ao taylorismo temos fordismo que introduz a linha de montagem e o pós-fordismo com a automatização, informatização e aos métodos flexíveis de fabricação. Então por um lado teremos desqualificação de alguns postos de trabalho mas por outro lado um numero menor de postos qualificados. Está havendo então um processo de desqualificação?
O significado da noção de qualificação  do processo de trabalho fica então implícita. Para Freyssenet (1980) qualificação para trabalho carrega diferentes significados e também não conclui o que vem a ser precisamente qualificação. Rolle (1989) também incursiona por este terreno e conclui que qualificação não é um modo de reconhecimento e de codificação social das qualidades de trabalho, mas uma maneira de mobilizar, de reproduzir e de adicionar as diversas formas de trabalho. O que também não resolveu o problema o faz com que os termos qualificação/desqualificação continuam ainda serem discutidas.
As modificações no processo de trabalho capitalista, ocorridas com a introdução de novas tecnologias e novas formas de organização do trabalho desencadearam novas pesquisas com relação essas modificações na educação. Estas novas tecnologias resultaram uma maior fragmentação e perda de conteúdo do trabalho e isto resulta implicações educacionais, mas a escola e a educação pouco tem a ver com esse processo de qualificação/desqualificação. Porem, quando se trata de divisão social de trabalho o papel da escola e da educação é o de reprodução social. Estudos mais recentes, contrários à tradição reproducionista, tendem a questionar como a educação poderia para diminuir os possíveis efeitos nocivos da introdução de novas tecnologias.
Para a teoria crítica da relação entre educação e trabalho o que deve considerar são as divisões educacionais devem ser superadas, devem construir um objetivo político central de luta e combatida. Na sociedade como na educação a questão é não o que se qualifica mas o que desqualifica.

Ana Carolina Carneiro Lopes

Um comentário:

  1. Certamente seu resumo ajudará na clarificação de conceitos não muito simples do texto que foi lido. Parabéns pela capacidade de escrita.

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