terça-feira, 14 de junho de 2011

Textualizando 4


          Reflexões sobre Currículo


Nesta semana, no final da aula de Concepções Contemporâneas sobre Currículo, nossa Profª Rita, lançou um desafio para nós alunos: relacionarmos a gravura que recebemos com o que estamos aprendendo sobre currículo. A princípio pensei o que tem a ver um camelo com currículo e uma rua calçada com pedra empossada pela a água da chuva? Achei muito interessante e comecei a refletir e agora registrar algumas ideias que me vieram à cabeça.
Primeiro vou relacionar as reflexões que fiz sobre o camelo. Quando olhei para a gravura a primeira coisa que questionei foi: É um camelo ou dromedário? Qual a diferença entre ambos? E na escola, quando falo em currículo as pessoas pensam: no currículo ou na grade curricular? Existem diferenças entre as referidas situações? Bem, existem diferenças bem distintas entre camelo/dromedário e currículo/grade curricular, mas nem sempre são definidas, o que permite uma confusão de ideias e conceitos quando referimos a alguma das duas situações. As diferenças precisam ser evidenciadas e a partir daí definir sobre o que estamos na verdade falando ou questionando, para que cada situação seja tratada de maneira específica e coerente. Sendo assim a gravura que estou observando para ser relacionada, após pesquisa, é de um camelo e vou relacioná-lo com o que as pessoas geralmente pensam sobre o currículo. Quando me refiro a um camelo é comum pensar em um animal que possui características bem definidas: é um mamífero, vive no deserto, consegue passar um tempo sem água, é forte, resistente, etc. Conceitos que já estão pré- formados em nossa mente, temos ideias prontas e rotuladas a respeito do camelo e o que sabemos sobre este animal já são suficientes, não carecemos de mais informações, pois ele não faz parte de nossa realidade. Na escola também é comum as pessoas restringirem o currículo, por falta de esclarecimento e de conhecimento, a grade curricular; que nada mais é que um conjunto de disciplinas, com uma mera listagem de informações, que cada série deve trabalhar dentro de uma carga horária específica, com tempos separados e fronteiras bem definidas entre elas. Sendo assim, a idéia de currículo também fica muito restrita como a idéia que temos do camelo. O currículo neste sentido se limita a transmitir conteúdos específicos de cada uma das disciplinas, que resultarão em conhecimentos que são julgados importantes para os alunos se posicionarem na sociedade. O currículo então pode ser entendido como “currículo coleção” (Bernstein), fragmentado, que dificulta as relações entre as disciplinas, que se preocupa com o conteúdo e não com o processo de aprendizagem do aluno. O currículo escolar passa a ter o mesmo sentido que o camelo tem para nós, algo sem significado, ambos estão descontextualizados de um cotidiano. Para Charlot, a relação de identidade com o saber é muito importante, aprender só faz sentido por referência à história do sujeito, às suas expectativas, às suas referências culturais, à sua concepção de vida, às suas relações com os outros, à imagem que se tem de si mesmo e a que se quer dar a si aos outros. Quando se fala em currículo escolar algumas questões básicas precisam ser levantadas, tais como: O que ensinar? A quem ensinar? Quando ensinar? Como ensinar? E o que, como e quando avaliar? Estas questões são importantíssimas para direcionar a prática pedagógica e atingir os objetivos da proposta curricular que é preparar o cidadão para a sociedade, o homem do futuro. Para quem se interessa e precisa do camelo, também vai levantar questões e buscar informações mais detalhes sobre a espécie.  Muito conhecimento oculto sobre este animal acaba sendo desvelado para que ele possa ter sentido para o homem, servindo-o. Para o camelo servir ao homem, precisa ser preparado, treinado, domesticado e então desempenhar seu papel como meio de transporte para determinadas regiões específicas, uma questão cultural. O currículo visto por esta perspectiva também tem a função de preparar, moldar, domesticar o aluno para ocupar seu espaço que lhe é destinado na sociedade. O camelo perdeu suas características inatas e o currículo, que fez no processo de identificação do aluno? Quase não existem mais camelos livres na natureza, ou são domesticados ou estão nos zoológicos. Com relação ao currículo questiono: Que tipo de cidadão a escola está formando? Quem são os homens da nossa sociedade?



 
Partindo para a segunda gravura, minha visão sobre currículo é bem diferente, já o vejo numa perspectiva processual, podemos nos referir a ele como sendo o percurso, a trajetória de formação do aluno. Segundo Sacristán (1998),
o currículo faz parte de uma realidade, de múltiplas práticas que não é apenas a prática pedagógica de ensino, ações de ordem política, administrativas, de supervisão, de produção intelectual, de avaliação, etc., e que, enquanto, são subsistemas em parte autônomos e em parte interdependentes, geram forças diversas que incidem na ação pedagógica. Âmbitos que evoluem historicamente, de um sistema político e social a outro, de um sistema educativo a outro diferente. Todos esses usos geram mecanismos de decisão, tradições, crenças, contextualizações etc. que, de uma forma mais ou menos coerente, vão penetrando nos usos pedagógicos e podem ser apreciados com maior clareza em momentos de mudança (Sacristán, 1998).
               
De acordo com a análise que o autor faz de currículo e relacionando com a imagem que observo da rua percebo que: Currículo e rua – percurso, caminho que vai me levar a algum lugar, tudo depende de onde se quer ir, do que se percebe quando o trajeto está sendo feito, das pessoas com quem se encontra, das conversas e do momento da caminhada. O momento da caminhada faz parte de uma realidade objetiva e ao mesmo tempo subjetiva, inserida num cenário que sempre é o mesmo, mas a forma de fazê-lo nunca é a mesma. Existe uma história, um tempo, um espaço.
A rua calçada com pedras irregulares, que denotam um tempo remoto, uma história passada, mas também presente e futura...muitas vidas, muitos segredos, a chuva modificando a paisagem, penetrando e preenchendo os espaços entre as pedras, deixando algumas submersas e outras a vista, refletindo luz, o céu clareando e as nuvens passando, algumas mais leves, outras ainda pesadas deixando a sombra... Assim também o currículo, disciplinas diferentes, umas mais importantes, outras menos, dependendo do momento. Conteúdos em evidência e outros ocultos. Relações entre as disciplinas se estabelecendo resultando a forma como espaços serão preenchidos (concepções de aprendizagem, metodologias, avaliações, organização do espaço/tempo, relações professor/aluno, etc) e assim o processo ensino aprendizagem acontecendo. Informações, conhecimentos (conceituais, procedimentais, atitudinais), sabedoria vão clareando e refletindo no percurso da vida de quem está aprendendo (professor/aluno). As sombras existem, momentos de dificuldade, de não compreensão, falta de esclarecimento, de entrosamento, mas de alguma forma ou de outra, ela passa e no percurso o reflexo da luz ou da sombra.
A rua pertence a um bairro, que forma uma cidade, que está inserida num estado, que forma um país, que faz parte de um continente que completa o mundo. O aluno vem de uma família, faz parte da escola, que está inserida numa sociedade que tem sua cultura, seu sistema econômico, social e político que interferem na realidade, na qual o aluno está inserido.
Rua, um caminho que vai e vem.
Enfim, a rua é a vida de quem está aprendendo!


 Ana Carolina Carneiro Lopes

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